17/04/2012

Definição de parâmetros, nomenclatura e os novos rumos da comercialização dos azeites no Brasil

Por iniciativa da JKPG Consultoria, diga-se Jairo Klapp e Patricia Galasini, um grupo de especialistas, formados como degustadores profissionais de azeite e apaixonados pelo assunto, realizaram neste fim-de-semana no Senai da Barra Funda na capital paulista, a primeira de uma série de reuniões com o objetivo de adequar parâmetros sensoriais, definir nomenclatura e padronizar termos para tudo o que envolve o comércio, a produção, o consumo, a degustação e a futura capacitação técnica de novos profissionais no Brasil.  
A publicação da Instrução Normativa no D.O da União em fevereiro último, sua entrada em vigor no próximo ano, o incremento do plantio de oliveiras visando a produção do óleo e o expressivo aumento do consumo, fazem com que esta iniciativa seja mais que valorosa e necessária, pois urgente ela já é.  
O desconhecimento geral sobre este rico produto da natureza, principalmente a respeito de sua diversidade sensorial é quase total no Brasil e dá início a deturpações e desinformações  perigosas que podem nos conduzir pelo caminho equivocado não só na incipiente produção (a voracidade financeira em detrimento da ética), como no consumo, uma vez que temos a memória sensorial mal formada pelos péssimos azeites que historicamente consumimos.
Termos como azeitólogo, azeitoteca, provador de azeite, azeitófito... parâmetros e padronizações, tudo começou a ser exaustivamente debatido tendo como base a nova legislação brasileira e as definições do principal organismo internacional regulador, o COI (Conselho Oleícola Internacional).  
Impressiona-me ler as inúmeras notícias, sobre a produção no sul de Minas e no Rio Grande do Sul, comparando os azeites ali produzidos a produtos gourmets, cujo valor agregado evidencia "um novo eldorado" no agronegócio brasileiro, como se os jovens olivais do Brasil pudessem precocemente responder aos naturais anseios humanos pelo lucro fácil e em pouco tempo produzir um ingrediente com o mesmo valor e qualidade que os tradicionais e milenares terroirs da região do Mediterrâneo.
Como na vida, há o tempo da semeadura e o tempo da colheita e a Olea europea, nome científico da oliveira, nos dá inúmeras lições e pode nos ensinar com sua milenar existência uma virtude hoje muito rara no mundo contemporâneo: a paciência.
São válidas todas as experiências genéticas feitas com a planta para que se adapte às condições tropicais e bem sabemos que em nosso país, "em se plantando tudo dá".  Pessoalmente sou favorável a todas as iniciativas empreendedoras e estou convicto de que produziremos bons azeites, mas, há que se compreender que, em se tratando de extra virgens, para que se produza com a excepcional qualidade que esse nobre óleo naturalmente possui, não basta o conhecimento científico e investimentos vultosos, é preciso experiência, tempo, paciência e sabedoria, pois azeites tem vida própria, alma e obedecem a critérios empíricos que a lógica nem sempre pode explicar. 
Há quem me chame de sonhador, utópico, romântico e fora da realidade, mas o tempo que estamos vivendo requer reflexão, nova consciência e, sobretudo, resgate do elo perdido com a alimentação, há muito pasteurizada com a industrialização.  Posso aqui lhes afirmar que as percepções sensoriais que um bom extra virgem proporciona pode em muito contribuir para a reconstrução desse elo. Daí a necessidade de se elucidar as diferenças para corrigir os rumos tomados.
Em postagens anteriores já falei sobre os fatores que influenciam na qualidade do azeite (da variedade, ao modo de produção e terroir) e há extensa literatura a respeito do assunto.  O que quero ressaltar é que neste momento em que ingressamos em um novo patamar de consumo e damos início à produção nacional, não há discernimento claro sobre todos os valores que o azeite agrega à alimentação e as informações tão desencontradas e confusas podem nos fazer perder a oportunidade de reeducar nosso paladar com novos parâmetros, deixando de enriquecer sensorial e nutricionalmente as preparações da nossa rica culinária, com o uso correto que o óleo requer. 
Portanto, caro leitor, a cada um uma missão azeitada... para o produtor, paciência, pois sua dedicação e persistência lhe trará a mais rica e ancestral cultura agrícola; para o comerciante e importador, lisura e honestidade, pois ao fornecer produto tão rico, estará empreendendo um serviço de saúde pública e qualidade de vida; para o cozinheiro, a magia, a poesia, a arte de enebriar e proporcionar prazer e bem estar único ao conviva; e para o apreciador, o deleite e a construção de momentos que em todos os sentidos se tornarão inesquecíveis.
Dessa forma, estaremos trabalhando para que, ao conhecer os novos produtos que estão chegando ao mercado brasileiro, o consumidor possa fazer suas escolhas com informações essenciais e ao optar pelo diferencial, estará optando pela saúde, longevidade e qualidade de vida.


2 comentários:

  1. Olá Marcelo!
    Quisera termos mais "sonhadores" como você. Embora eu ache perfeitamente realizáveis as missões que você citou, a utopia serve justamente para que, ao caminhar em direção ao impossível, alcancemos inúmeras conquistas reais e concretas. Acho que devagar e com a ajuda de boas cabeças, um dia teremos um azeite pra chamar de nosso.
    Como sua aluna, tenho muito orgulho e me sinto muito lisonjeada por ter um professor com tanto conhecimento e realizações.
    Abçs,
    Juliana

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  2. Obrigado Juliana, fico feliz por conseguir transmitir a essência desse conhecimento, pois ele não é tangível, mas nos faz realizar e também sonhar. Beijo enorme.

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