30/06/2014

Azeite, uma paixão nacional

Em março de 2014, a respeitada crítica gastronômica do jornal português O PÚBLICO, Alexandra Prado, me entrevistou como ecochef, junto com Teresa Corção, na Feira do Circuito Carioca em Laranjeiras, onde às terças, nós do INSTITUTO MANIVA montamos a famosa barraca de tapioca.   Na ocasião, após conversar com Teresa sobre a importância do trabalho social do MANIVA, ao saber de minha especialidade como azeitólogo, Alexandra estendeu a entrevista para conhecer sobre o consumo desse tradicional alimento mediterrâneo em nosso país, paixão nacional em Portugal.  O diálogo rendeu mais uma reportagem da série que o jornal vem realizando este ano sobre o Brasil e foi publicada no último dia 3 de maio.  Em seu rico e bem redigido texto, a crítica ressalta curiosamente minha afirmação sobre o crescimento do consumo em curso no país, onde ressalto que este explodirá nos próximos anos, tendo em vista a perfeita combinação das novas nuances sensoriais dos extra virgens de excelência e a riqueza dos ingredientes brasileiros.
Quando citei a harmonização com frutas tropicais, Alexandra ficou não só curiosa, ressaltou esse “exagero” e convidou-me para participar de outro agradável bate-papo, desta vez, conduzindo uma degustação de azeites portugueses, evento realizado no Parque da Bola, no Jockey Clube do Rio de Janeiro, por ocasião do jogo entre Portugal e EUA, no dia 22 de junho.
  
Ao selecionar 5 azeites especiais de diversas regiões de Portugal, incluindo entre eles o Azeite Novo Safra 2013/14 da linha especial da GALLO, busquei conduzir o público convidado a um passeio sensorial  pelo mundo dos novos azeites portugueses.   O monovarietal Galega HERDADE DO MANANTIZ, do Alentejo, o QUINTA VALE DO LOBO, do Ribatejo e os Trasmontanos MAGNA OLEA e SANTO AMARO PREMIUM completaram minha escolha e com pedaços de pão ou cubos de manga e abacaxi, todos puderam experimentar essas novas sensações.

Desde que iniciei meus estudos sobre o assunto, buscando conhecer a fundo tudo o que influencia a produção mundial deste ancestral alimento e sua riqueza organoléptica, percebi que seu casamento com a gastronomia brasileira resulta na mais perfeita harmonia.  Transmitir ao brasileiro tão rica variedade e complexidade tornou-se uma alegre obsessão:  dos pré-preparos, aos métodos de cocção e às finalizações (entradas à sobremesas), encontramos um azeite para usar, harmonizar e nos deleitar.
O pequeno auditório Totó da Casa do Globo, estrutura especialmente montada para os dias da Copa do Mundo no Brasil, teve sua pequena capacidade de 80 pessoas excedida, fato que muito me agradou por constatar o quanto o assunto desperta cada vez mais interesse.  

Frutados mais verdes ou maduros, varietais ou blends, aos poucos nos familiarizaremos com essas maravilhas que chegam de Portugal, de outras regiões produtoras e até mesmo de nosso país.  Azeite de Oliva é um alimento perfeito, óleo que traduz em seu conteúdo a essência da terra, a paixão pelo ofício de cultivá-la, resgatando valores esquecidos e muito preciosos.  No poema “APANHADOR DE DESPERDÍCIOS" de Manoel de Barros, conhecido poeta brasileiro, lido por mim no evento, procurei expressar a importância lúdica do ato da escolha alimentar, do quanto isto está relacionado ao prazer de viver e a simplicidade de encontrar em pequenos momentos, uma grande felicidade:

"Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras 
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito à coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as moscas.
Queria que minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios."

Em tempos de Copa do Mundo, a bola rola solta e as emoções fluem em profusão.  A partida foi dada para que esta outra Paixão Nacional se concretize também por estas terras.

 O  auditório preparado para receber o público

 Com Alexandra Prado no Parque da Bola
A reportagem escrita e publicada na edição de ontem do jornal O Público





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