16/12/2019

Sudoliva, uma identidade sensorial sul-americana!

Entre os dias 26 e 29 de novembro, na cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul, ocorreu a terceira edição do SUDOLIVA, concurso de azeites extra virgens sul-americanos, no qual se apresentaram 50 amostras de azeite dos 5 países produtores do continente: Argentina, Brasil, Chile, Peru e Uruguay.

Com realização do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e apoio da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre), UNIPAMPA (Universidade Federal do Pampa), EMATER, URCAMP (Universidade Regional da Campanha), Faculdades IDEAU e a prefeitura Municipal de Bagé, durante 3 dias, 14 profissionais especialistas desses cinco países se reuniram nesse município e elegeram 12 azeites nas três categorias estabelecidas pelo concurso: "frutado verde leve", frutado verde médio", "frutado verde intenso".

Idealizado pelo azeitólogo peruano Gianfranco Vargas Flores, o concurso SUDOLIVA nasceu com a missão de difundir os valores culturais inerentes à oliveira e sua ancestralidade na América do Sul a partir do mapeamento dos exemplares mais antigos do continente.   A identificação dessas árvores tem contribuído para resgatar a história da olivicultura em distintas regiões sul-americanas, locais eleitos para as edições do concurso:
- Em setembro de 2017, a primeira edição ocorreu em Lima, junto ao Parque El Olivar em San Isidro, onde estão oliveiras cultivadas em 1560.  - Em outubro de 2018, foi a vez de Arica, norte do Chile, onde se localiza "El Señor de Ocurica" e outras oliveiras também cultivadas no século XVI.

Para que o Brasil pudesse receber a terceira edição em 2019, com a inequívoca colaboração do MAPA, buscou-se identificar e localizar as oliveiras mais antigas do país.  Se houve plantios logo após a chegada dos portugueses, não há exemplares que tenham sobrevivido, embora há evidências de que tenha ocorrido.
Com a emigração açoriana em 1900 e documentos históricos de consumo de azeite local em 1905 na região de Bagé, localizaram-se oliveiras e agrupamento de oliveiras, cuja idade média estimada é de 120 anos.

A Fundação Santander em convênio com o COI (Conselho Oleícola Internacional) e a Universidade Politécnica de Madrid apoiam as pesquisas que possibilitam precisar a idade das oliveiras mais antigas que estão sendo identificadas na América do Sul e uma equipe de pesquisadores estará em solo brasileiro no primeiro semestre do próximo ano com esse objetivo.

Como provador das três edições desse concurso, fica cada vez mais claro para mim a evolução qualitativa sensorial dos azeites do continente, cujas características organolépticas dos distintos territórios começam a poder ser identificadas.
Se o critério de avaliação do SUDOLIVA fosse a premiação por pontuação, asseguro que 90% dos azeites seriam premiados, tanta foi a qualidade encontrada.

Ao realizar o concurso em novembro por motivos organizacionais, temíamos que muitos azeites extraídos no início do ano estariam "apagados", mas para a nossa surpresa, todos estavam com boa intensidade, equilíbrio e complexidade.

Frutados distintos, mais ou menos intensos, notas verdes e maduras, toques frutais, florais e herbáceos, sabores de folhas, frutas, frutos secos, com maior ou menor amargor e picor, maior ou menor complexidade e persistência.  Dessa diversidade experimentada, podemos concluir que azeites de excelência estão sendo produzidos nos 5 países participantes, com características próprias de cada região onde são elaborados e que harmonizarão com pratos típicos de cada local.

Em paralelo ao concurso, uma extensa programação de seminários técnicos de olivicultura e gastronomia foram realizados e dezenas de resultados de pesquisas relacionadas a esses temas foram apresentadas em painéis durante a semana do evento.

Com quase 500 anos de história nas Américas, a oliveira se estabeleceu em algumas regiões e hoje é também cultivada por povos nativos, que a consideram igualmente sagrada e dela extraem o seu sustento.
Ao valorizar as oliveiras monumentais como patrimônio cultural local, SUDOLIVA cumpre um importante papel, não só de unir o continente de forma interdisciplinar, mas também dá luz ao trabalho no campo, cuja bandeira da sustentabilidade, a olivicultura é a maior portadora.
Uma ação que terá efeitos tão perenes quanto o próprio valor no qual está embasado!
Viva a América do Sul!


 Durante as provas

 Provadores dos 5 países produtores

 Entre provadores e produtores junto às oliveiras antigas

SUDOLIVA celebra a prosperidade, a paz e a união