27/11/2014

Extra Virgens Safra 2014/2015 - Ano agrícola difícil, produtividade comprometida, excelência preservada!


No início de outubro deste ano, por ocasião da vinda de minha mestra, Dra. Brigida Jimenez para o curso de análise sensorial no Senac Rio, todos os participantes tiveram a oportunidade de provar um extra virgem da província de Jaén, na Andaluzia, extraído no primeiro dia deste mesmo mês.  O inédito fato deveu-se a antecipação da colheita nesta região e em várias outra áreas produtoras, quando o amadurecimento dos frutos se deu de forma diferenciada em cada pequeno terroir do sul da Espanha.  Um dos pioneiros em excelência na Andaluzia, o azeite trazido pela mestra, Oro Bailén Monovarietal Picual, mantendo seu padrão de qualidade, mantém este ano suas características de notas verdes, folhas, de frutado intenso e perfeito equilíbrio entre amargos e picantes.  O privilégio apresentado no curso no Senac Rio antecipou as emoções que vim a sentir em meu percurso anual por toda a região, onde a Espanha vem se sobressaindo na qualidade e arrebatando inúmeros prêmios pelo mundo.  O fato foi significativo para minha compreensão sobre as complexidades relacionadas a elaboração de extra virgens.

Degustando Oro Bailén 2014/2015


As notícias da produção do mundo oleícola este ano variam em cada país produtor, mas de forma geral, o que observei em minha passagem pelos três principais países fornecedores ao Brasil (Portugal, Espanha e Itália) foi uma sensível queda na produção, o que já era esperado pelo natural ciclo da oliveira, mas fatores climáticos distintos e ataques inesperados de pragas (moscas e fungos) acentuaram consideravelmente os números.

Azeitonas irregulares por toda parte


Na Itália, o ano é considerado o pior em toda história recente, o que obrigará ao mais tradicional produtor de extra virgens nobres a importar de outros países para manter seus níveis de venda, o que está fazendo os preços dispararem no mercado futuro.  Na Espanha, a tragédia não se abateu tão fortemente, mas o maior produtor mundial estima em mais de 50% a queda em sua produção, o mesmo ocorrendo em Portugal, nosso principal fornecedor.
Passeando entre os lagares e observando a chegada das azeitonas para seu beneficiamento, o que percebi é que, a despeito da quantidade produzida, a qualidade sensorial de quem elabora a excelência em nada está comprometida, pois colhe no  momento certo e seleciona suas azeitonas por lotes.

Excelência garantida com azeitonas de qualidade

Para citar apenas alguns rótulos proeminentes, da Puglia, no Sul da Itália, os tradicionais extra virgens da família De Carlo mantém com primor suas intensidades e peculiares características.  Da Andaluzia, além do Oro Bailén, os mono varietais Arbequina e Picual do premiado O-Med, também se mantém intactos nas qualidades que o celebrizaram. Extra -Virgens como Nobleza del Sur, Spiritu Santo, Oro del Desierto, Suerte Alta e tantos outros apresentarão seus produtos com igual excelência. 


Oro del Desierto e Nobleza del Sur, excelência 

De Trás-os-Montes, de nosso amado Portugal, todos os blends da Casa de Santo Amaro, impecavelmente elaborados pela família Pavão, encontram-se perfeitamente equilibrados, com seus frutados intocados.  Do Alto Douro, a tradição da família Arboredo Madeira, com a linha Carm, continua nos seduzindo com seus frutados leves, amendoados e notas amargas e picantes suaves e equilibradas.  Do Alentejo, região muito afetada por ataques de variadas pragas, o Herdade do Esporão, com todos os seus rótulos, sob as mãos da grande especialista Ana Carrilho, chegará ao Brasil com qualidade excepcional.  E como não podia deixar de ser, a Gallo, de Victor Guedes, marca número um em nosso país, nos brindará com extra virgens Premium, cuja qualidade se evidenciará em frescor, complexidade e diversidade para que os harmonizemos com os mais variados pratos de nossa culinária.  

Herdade do Esporão - qualidade excepcional para o Brasil

Gallo - as melhores surpresas para os brasileiros

Embora aqui pudesse me estender em falar dos inúmeros azeites degustados nesta viagem, atenho-me a este curto passeio para relatar que, ao que nos interessa como consumidores e apreciadores, as características sensoriais dos extra virgens que estão chegando para nós, brasileiros, indicam um aprimoramento de qualidade nunca antes observado.  A menor oferta alterará preços, compensados perfeitamente pelo conteúdo do produto apresentado.  
Quanto ao rótulo a ser escolhido, para cada azeite seu devido uso.  Informar-se e educar-se, esse é o melhor caminho.

A festa do azeite novo no lagar da família Pavão, produtora do Casa de Santo Amaro
Emoções sem palavras, traduzidas em excelência de aromas e sabores

07/11/2014

Terra Madre, Salone de Gusto e Azeites Extra Virgens

Entre os dias 22 e 27 de outubro passado, tive a honra de participar, como membro do SLOW FOOD Rio de Janeiro, da 6a edição do Terra Madre, evento bianual promovido pelo SLOW FOOD Internacional, onde 15.000 agricultores, cozinheiros e profissionais ligados ao alimento artesanal de 165 países se encontraram para trocar experiências e pensar o futuro da produção alimentar, seu manejo, suas práticas e sua preservação.

Na cidade de Turim, na região do Piemonte, norte da Itália, no centro de convenções de Ligotto, foi possível dar a volta ao mundo experimentando e degustando o alimento cultivado e produzido em cada remoto canto de nosso planeta e, ao mesmo tempo, testemunhar os esforços de seus produtores para preservá-lo do rolo compressor que a produção agro industrial tem imposto ao sistema alimentar mundial.
Do Japão à Palestina, da Rússia à Portugal, do continente Africano às Américas, a união de homens e mulheres para salvar a diversidade do alimento, seu cultivo ancestral, respeitando a biodiversidade e a cultura secular criada pela aventura humana sobre este planeta finito.   Entre conferências, palestras e debates, a união do pensamento para gerar uma nova força transformadora.



No coração do evento, em um espaço de 600 metros quadrados, estava a tão falada Arco do Gosto Slow Food, uma construção estilizada de madeira, representando um grande barco, com produtos que estão em risco de extinção no mundo.  Ali, o visitante pôde descobrir todo tipo de sementes, grãos, milhos, legumes, farinhas, feijões, alimentos dos cinco continentes, que representam culturas, tradições e heranças de povos e lugares.  
Em um processo, que tem sido denominado como anarquia austera, critérios adaptados a cada cultura estão sendo adotados para que os mais diversos produtos e práticas possam ser incluídos na Arca, com o objetivo de serem preservados como patrimônio cultural, sua produção mantida e gerando renda ou subsistência para quem o produz. O Brasil participa ainda com poucos produtos como manteiga de bacuri, méis de abelhas nativas, sementes de cacau, aguardente de mandioca e há vários outros em processo de inclusão como as diversas farinhas de mandioca de inúmeras partes do país.



Entre os estandes do Terra Madre, o SLOW FOOD Brasil estava representado por produtores de cachaça, rapadura, cacau, cupuaçú, méis nativos, arrozes, umbú, guaranás, queijos, marmeladas de quilombolas, óleo de dendê, castanha de barú e licurí produzidos por etnias indígenas, povos do Cerrado, da Amazônia, da Mata Atlântica, do Pantanal, do Sertão, do Maranhão, das Serras das Gerais.


No estande dos queijos brasileiros 


Conjuntamente a este já grandioso evento, realizou-se no pavilhão ao lado, o Salone del Gusto, feira italiana de gastronomia, com seus produtos típicos expostos por região e, como não podia deixar de ser, além de toda a tradicional qualidade dos ingredientes produzidos pelos italianos, a excelência dos azeites extra virgens se fez presente.

A Itália, entre os países produtores de azeite é aquele que possui o maior número de variedades de azeitonas, a maior diversidade climatológica e consequente diversidade sensorial.  A riqueza da produção alimentar da Itália faz desse país a maior potência gastronômica do mundo e, não por acaso foi onde nasceu o movimento mundial que tem dado origem a todo pensamento aqui gerado sobre a origem do alimento e seu futuro.
Para que esse artigo não se estenda mais, que ele possa ser um pequeno registro dessa experiência aqui vivida, um convite às reflexões necessárias sobre a produção alimentar e o quanto a simples escolha do que comemos está relacionado ao ambiente em que vivemos.
Minha jornada continua...  Agora na Espanha com os azeites da safra 2014/2015, daqui para Portugal e finalmente no meu Rio de Janeiro para que as virtudes dos bons azeites sejam conhecidas por todos e a consciência sobre o ato de se alimentar seja cada vez mais presente.


Com Marina De Carlo, produtora de um dos melhores azeites do mundo, no Salone del Gusto


Carlo Petrini, fundador do SLOW FOOD, visitando os agricultores brasileiros