A Expoliva, importante feira do setor oleícola mundial, ocorre bi-anualmente desde 1990 e neste ano de 2015 celebrou a quinta edição do Salón Internacional del Aceite de Oliva Virgen Extra, ambos evento organizados pela Fundación del Olivar, na província de Jaén, Andaluzia.
No dia 16 de março passado recebi desta importante instituição um convite para ser colaborador e, como conhecedor de azeites extra virgens, selecionar aqueles que considero os mais destacados na produção brasileira.
O Salão abrigou uma magna exposição de 150 marcas de azeites de qualidade suprema de importantes zonas produtoras no mundo e pela primeira vez o Brasil teve participação.
O V Salón Internacional del Aceite Virgen Extra Expoliva
Com cinco marcas de azeites de distintas regiões olivicultoras do Brasil, os azeites selecionados representaram o país no evento e apesar da pequena quantidade produzida, que atende a menos de 0,1% do consumo nacional, a qualidade sensorial apresentada surpreendeu a todos.
3 gaúchos - Olivas do Sul (Cachoeira do Sul), Ouro de Sant'Anna (Santana do Livramento) e Prosperato (Caçapava do Sul); 1 paulista - Olivais da Bocaina (Serra da Bocaina) e 1 mineiro/paulista - Oliq (Serra da Mantiqueira) compuseram o time participante, cujas amostras, com exceção do Olivas do Sul, ficaram expostas ao público para degustação entre os dias 6 e 9 de maio passado.
Extra Virgem Oliq - São Bento de Sapucaí / Serra da Mantiqueira
Extra Virgem Olivais da Bocaina - Silveiras / Serra da Bocaina
Extra Virgem Ouro de Sant'Anna - Santana do Livramento
Extra Virgem Prosperato - Caçapava do Sul
Com percalços nos trâmites aduaneiros, as amostras enviadas pelos produtores extra comunitários ficaram retidas na fiscalização alfandegária e a participação brasileira foi garantida graças às garrafas levadas pelos próprios em suas malas. O Olivas do Sul, devido a esse imprevisto e pela pequena quantidade que se conseguiu levar, não foi exposto ao público, mas foi degustado pelos especialistas e incluído no catálogo comemorativo.
Para a seção de prova aberta em que participamos, dois extra virgens brasileiros foram degustados junto a três excelentes espanhóis. A mesa que conduziu a degustação foi composta pela Dra. Brígida Jimenez, diretora do IFAPA (Inst. Andaluz Investigación y Formación Agraria, Pesquera y Producción Ecológica), o Dr. Fernando Martínez Román do Laboratorio Sensorial Instituto de la Grasa, eu, como delegado convidado, o produtor espanhol, Juan de Díos Garcia Casas (Extra virgem O-Med) e o produtor brasileiro, Rafael Marchetti (Extra Virgem Prosperato).
O monovarietal Koroneiki de Caçapava do Sul, com notas herbáceas, frutas verdes e maduras apresentou uma complexidade organoléptica surpreendente, cujas notas sensoriais deram toques distintos à variedade grega cultivada nesta região. A marca Prosperato, produtora de azeites há apenas 3 anos, aponta para um caminho de qualidade e excelência. Promete!
Para falar apenas dos brasileiros, em seguida foi degustado o azeite Oliq monovarietal Arbequina da Serra da Mantiqueira, cuja suavidade de frutas maduras e persistente amendoado mostra a diversidade sensorial que o Brasil pode produzir. Vera Masagão, Antonio Batista e Cristina Vicentin investem com maestria e profissionalismo nas terras altas da Mantiqueira e produzem um azeite que reflete a paixão que possuem por esse alimento tão rico.
Da minha direita para a esquerda: Dra. Brígida Jimenez, Rafael Marchetti
e Dr. Fernando Martínez Román
Dra. Brígida Jimenez e Juan de Dios García Casas
Nossa participação se completa com o Olivais da Bocaina, extra virgem produzido por Anibal Cury e Dominique Pierre, cuja personalidade do monovarietal Grappolo, com notas herbáceas e frutas verdes já evidencia um futuro promissor para a marca; Ouro de Sant'Anna, produzido pelo casal Sibele e Fernando Rotondo, em Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, é um monovarietal Arbequina, cujo frutado maduro confere elegância e suavidade às características da região.
Finalmente, o pioneríssimo Olivas do Sul, com seu monovarietal Koroneiki de Cachoeira do Sul, apresentou o azeite da safra 2014 que manteve seu frescor e personalidade, o que evidenciou, do conjunto total apresentado pelo país, o grande potencial de nossa produção.
De fevereiro de 2008, quando extraiu o primeiro azeite 100% nacional na EPAMIG de Maria da Fé/MG, nos Contrafortes da Mantiqueira até hoje, apenas 7 anos se passaram e muito o país evoluiu.
Nossa participação no Salão foi de grande importância para a construção do caminho de aprendizado rumo à produção de qualidade. Extra Virgens de excelência requerem cuidados especiais em todas as etapas do processo produtivo, da forma de cultivo à elaboração; cuidados que exigem investimentos em tecnologia, mão de obra, estudo de técnicas, paciência, persistência, muita paixão e dedicação.
O atrevimento do espírito empreendedor brasileiro em trazer oliveiras para regiões tropicais e subtropicais mostra seus resultados e aponta para um potencial que se revela em características sensoriais próprias e, dentro dos limites climáticos do país, apresenta um produto que será consumido na origem com toda a integridade de seus componentes físico químicos e, tal como um bom sumo de fruta, será consumido dentro de seu total frescor. Avante, Brasil... e com saúde!