Durante o Rio Gastronomia, quando poucos, mas interessantes debates sobre o rumo da alimentação foram realizados pelo Instituto Maniva, não poderia perder a oportunidade de escrever sobre o assunto, somando a recentes artigos publicados na mídia impressa e digital, que traz à luz pensamentos nem sempre coincidentes.
De um lado, o lançamento do livro ' COZINHAR - UMA HISTÓRIA NATURAL DA TRANSFORMAÇÃO" do escritor americano Michael Pollan, que no início deste mês participou de uma mesa de debates na FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty). Ainda não li o livro na íntegra, mas o fato é que ele nos convida a pensar o alimento e nossa responsabilidade no ato da escolha deste. Nas palavras do autor, ele afirma que ao deixar as grandes corporações cozinharem para nós, abrimos mão de muito poder e, tomando como base o cenário norte-americano, descreve o processo em que a comida industrializada, esvaziada de conteúdo e história, toma o lugar da cozinha tradicional.
Alinhado a este pensamento, o Instituto Maniva age em diferentes frentes e propõe uma mudança na atitude do consumidor, dos cozinheiros e dos proprietários de restaurantes e estabelecimentos de gastronomia para conscientizar a todos sobre a importância da escolha do alimento como uma ação, não só geradora de recursos e bens, ou seja, econômica, mas também ambiental e política.
Com esse objetivo, durante a recente edição do Rio Gastronomia, além do lançamento do projeto SOU PARCEIRO DO AGRICULTOR, propusemos debates sobre a pesca sustentável, a agricultura familiar orgânica e agro-ecológica, lançamos o filme O CAMINHO DA COMIDA e, em todas essas ações, importantes personalidades, tanto das três esferas do poder público, como da sociedade civil puderam discutir e pensar o rumo da produção, distribuição e comercialização do alimento.
Do outro lado, voltando ao cenário norte-americano, uma reportagem escrita por Lizzie Widdicombe, jovem colunista da respeitada revista NEW YORKER (http://www.newyorker.com/magazine/2014/05/12/the-end-of-food), descreve um grupo de nerds do Vale do Silício que considera as refeições uma perda de tempo e, por isso mesmo, criaram uma mistura de nutrientes necessários à sobrevivência, que substituiria todas as refeições.
A curiosa história de três jovens californianos, profissionais da tecnologia que moravam num claustrofóbico apartamento em São Francisco e comiam apenas miojo, salsicha no palito e Mac Donald é ilustrativa como ato de desconstrução de nossa civilidade. Considerando a comida "um fardo", um dos jovens, que adoeceu em 2012 devido à alimentação junk, dedicou seu estudo a livros de bioquímica nutricional e sites da FDA (Agência de Vigilância Sanitária dos EUA), compilou uma lista de nutrientes necessários a sobrevivência, comprou-os por internet, bateu pó e comprimidos no liqüidificador com água e criou uma poção que denominou Soylent. Após meses de experimentos em si mesmo e nos colegas de apartamento, criou uma campanha de "crowdfunding" na rede e em duas horas arrecadou 150 mil dólares, seguido de um fundo de investimentos que contribuiu com U$ 1 milhão. Diz a reportagem que a substância líquida e gosmenta, que pode ter o sabor que desejar, hoje tornou-se um hit nos EUA.
O fato é que o panorama aqui descrito nos dá o que pensar. No trinômio da Chef Teresa Corção: "COMIDA É AFETO, CULTURA E MEMÓRIA", pensamento que norteia as ações do Instituto Maniva e seus Ecochefs, encontramos o fundamento de nossa missão;
"AGREGAR VALOR AOS AGRICULTORES FAMILIARES BRASILEIROS FAVORECENDO A MANUTENÇÃO DA BIODIVERSIDADE GASTRONÔMICA E A MELHORIA DA QUALIDADE AMBIENTAL DAS SOCIEDADES RURAL E URBANA."
E visão:
"UM MUNDO ONDE TODOS OS INTEGRANTES DO SISTEMA ALIMENTAR TENHAM UMA PARTICIPAÇÃO MAIS JUSTA, TANTO FINANCEIRAMENTE COMO EM SAÚDE, BEM ESTAR E QUALIDADE DE VIDA".
Somando forças ao movimento do SLOW FOOD INTERNACIONAL, de cujos ideais nasceu o MANIVA, o trabalho e os desafios que temos não são poucos, pois a velocidade do tempo que vivemos e as premissas do sistema, nos colocam na contra-mão de uma grande massa.
Aqui entra uma de minhas idéias e convicções: Azeite de Oliva, alimento funcional e ancestral, cujo uso estamos em processo de aprendizado, tem em si o conteúdo nutricional, cuja diversidade organoléptica é uma poderosa ferramenta que pode auxiliar no necessário resgate de nossa relação com o alimento. Ao agregar notas sensoriais tão sutis quanto sedutoras, proporcionando tantos benefícios a saúde e cujo cultivo e produção é infinitamente menos agressivo ao ambiente do que qualquer semente para óleo vegetal, ao usar azeites de oliva desde o preparo às finalizações, faremos bem ao corpo, a alma e também ao planeta. Azeitar-se é portanto uma necessidade do mundo!
Debate sobre Pesca Sustentável promovido pelo Instituto Maniva
O livro de Michael Pollan
Agregar valor aos agricultores familiares br
gastronômica e a melhoria da qualidade alimentar das sociedades rural e