04/06/2018

Concursos Internacionais de Azeite, a real dimensão de sua importância

Desde janeiro de 2016, ano em que fui convidado pela primeira vez para participar como jurado de um concurso internacional de azeites na Espanha, tenho participado de inúmeros outros, ampliando meu conhecimento sobre a enorme diversidade deste "novo" alimento, cujo uso na gastronomia se amplia de forma incomparável, desde que azeite passou a ser produzido no mundo.   Portugal, Espanha, Marrocos, Tunísia, Peru, Argentina e na próxima semana, uma viagem à Israel coroará esse circuito.

Nos últimos três anos, observamos a inserção do azeite brasileiro nos concursos internacionais, onde várias premiações estão sendo obtidas, comprovando a excelência dos extra virgens extraídos em nossas terras.   O fenômeno é surpreendente aos olhos da maioria das pessoas, mas tendo em vista todo o cuidado no cultivo e na elaboração que é dado ao azeite brasileiro pela grande maioria dos produtores, o resultado não pode ser diferente e serve para reiterar aquilo que venho dizendo: não há o melhor azeite do mundo, azeite bom é azeite fresco, resultado de boas práticas no campo, no lagar e na conservação.  O frescor é o principal, senão o único atributo que devemos considerar no momento da escolha do rótulo.

Apesar das oliveiras brasileiras serem jovens, um bom azeite é elaborado a partir de frutas saudáveis, bem cultivadas e bem manipuladas e isso independe da idade das árvores.  No mais, todas as características sensoriais que o extra virgem brasileiro vem apresentando é a tradução de nosso território, local onde nunca antes as oliveiras haviam sido cultivadas.  A partir desse ponto, vale relativizar os resultados dos concursos, uma vez que, as características sensoriais de nossos azeites, entre alguns "especialistas" que participam como jurados, não são identificadas como atributos positivos, por serem desconhecidas desses profissionais, o que tem gerado algumas análises equivocadas, com consequente desclassificação de bons azeites.    Faz parte do jogo!  

Aos que possuem um produto de muita qualidade, que são caracterizados como "defeituosos" nas avaliações finais de alguma competição, não devem se frustrar, pois o caminho da consolidação dos concursos internacionais e da diversidade sensorial dos azeites de distintos territórios do mundo está em curso.  Como simples exemplo, nesse ano de 2018, cito a amostra do mesmo lote de um azeite brasileiro premiado no Japão, considerado "defeituoso" em Nova Iorque!   Como isso é possível?
As transformações nesse mercado são imensas!  É preciso conhecer mais, estudar mais e sermos incansáveis na rastreabilidade do fruto com o qual se elabora o azeite, bem como garantir todas as condições de limpeza de cada etapa da extração. 

Essa foi a razão pela qual propus um mestrado em ciências do alimento na UFRJ e iniciei pesquisas que estudam os voláteis de variedades brasileiras.   Espero até 2020 ter defendido a tese, obtendo bases científicas que comprovam a qualidade do nosso produto.  Os aromas e sabores distintos e surpreendentes que se apresentam em alguns azeites elaborados em diferentes localidades do Brasil expressam o nosso terroir, merecem estudo específico para ser levado aos fóruns que os avaliam.
Em 2018,  Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia ingressaram no hall dos estados produtores.  Quanta coisa temos a descobrir, definir e estudar?

Premiados ou não, temos excelentes azeites, não devemos nada a nenhum outro comparativamente. Independente de resultados de concursos, o caminho da qualidade do produto brasileiro está sendo trilhado, não há volta e, como podemos observar, está influenciando a qualidade do que importamos e essa é a maior valia, afinal, em 2017 foram 60 milhões de litros importados e 110 mil litros produzidos.  Avancemos!

Beja, Portugal

 San Juan, Argentina

 Lima, Perú

Meknés, Marrocos

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