No dia 2 de dezembro de 2011, escrevi um artigo aqui
no blog intitulado VIRGINDADE EXTRA sobre um livro publicado nos EUA, cujo conteúdo aborda as
inúmeras fraudes no mercado americano de azeite, que movimenta atualmente U$ 1,5
bilhão por ano.
Pois bem, no último dia 23 de dezembro, no cotidiano
“La República” o jornalista e
escritor italiano Paolo Berizzi assina uma matéria de duas páginas sobre a
fraude no comércio dos extras virgens italianos e descreve, sem citar nomes, um
poderoso e milionário esquema protagonizado por grandes empresários da
indústria do azeite, que se inicia com a importação do óleo a 25 centavos de
euro o quilo, de diversas procedências (Espanha, Grécia, Marrocos, Tunísia) para
misturá-lo, desodorizá-lo, engarrafá-lo e
vendê-lo com nova e falsa identidade por um valor que varia entre 2 a 4 euros/quilo como puro Extra Vergine Italiano, distribuído na
Itália e igualmente exportado.
Publicada em um dos jornais de maior circulação na
Itália, a reportagem continua sua denúncia relatando a formação de cartel: um
grupo de grandes empresas, produtores e distribuidores aliados em nome da
especulação fundada sobre uma refinada fraude comercial, sobre o engano doloso
do consumidor, criando um ‘sistema’ que está acumulando grandes benefícios
comerciais já nomeado como a “agromáfia” italiana.
Em minha viagem aquele país nos idos de 2008, quando
ainda pouco conhecia as inúmeras emoções que o azeite pode proporcionar,
estranhei que ao visitar a sede de uma conhecida indústria, grande exportadora
para o Brasil, não encontrei nenhum pedaço de terra com sequer uma única
oliveira e ali fotografei frustrado grandes silos de armazenagem, onde são
feitas as misturas com características específicas.
Nada de ilegal, minha frustração derivou-se do fato
de não encontrar um enorme olival próximo, conforme minhas romantizadas
expectativas. Estava sendo
apresentado a uma das maiores empresas italianas engarrafadoras de azeites, punto e basta. Aprendi naquele momento que a qualidade de um bom azeite é
gerada em pequenas propriedades, que cuidam de sua produção artesanalmente e
produzem quantidades pouco industriais para vendê-las com sua própria marca e
tive o enorme prazer de conhecer alguma delas, inclusive me hospedando em uma. Surpreso fiquei agora ao saber que ali
eu testemunhava uma provável fraude alimentícia, conforme denuncia a reportagem
que relata o processo de transformação, por vaporização, a qual é submetido o
óleo importado para a retirada de seus defeitos.
Diante de tais informações, fica a reflexão sobre as
ações que nós consumidores no Brasil podemos tomar, uma vez que importamos 99,9%
do azeite que consumimos e somos destino certo para esses produtos. Por possuir pouca ou nenhuma tradição
no consumo de azeites de qualidade, somos presas fáceis desses negócios
escusos, pela total ausência de referências sensoriais. Por décadas sempre recebemos os piores
azeites e nossa memória afetiva para esse óleo foi constituída de forma tão
equivocada que há grande resistência em se estabelecer os novos parâmetros que
os azeites de qualidade portam e esse é o ponto nevrálgico da discussão que
devemos estabelecer a partir desses fatos.
Na maior crise econômica enfrentada pela comunidade
européia no últimos anos, os principais atores que a protagonizam detém 70% da
produção mundial de azeites
(Espanha, Itália, Grécia e Portugal) e a procura de novos mercados se faz
urgente e necessária, sendo o Brasil o destino principal dessa busca, onde o
consumo cresce na ordem de 20% ao ano.
Muito recentemente, portanto, temos a oportunidade de encontrar no
mercado brasileiro alguns bons e verdadeiros azeites, mas como reconhecê-los?
Não há outra escolha senão iniciar a construção de
nosso próprio caminho. A
diversidade e riqueza da gastronomia brasileira são proporcionais a enorme
variedade de aromas e sabores que os bons e legítimos azeites extra virgens
possuem, criando uma infinidade de possibilidades de uso, adequando-os e
harmonizando-os para agregar às nossas preparações não só percepções sensoriais
únicas, mas sobretudo um enorme valor nutricional.
O que desejo, prezado leitor, é ajudá-lo a ser
conduzido por esse inebriante caminho, criando em cada um o seu próprio
discernimento. O conhecimento que
nos impedirá de fazer a escolha errada só se acumula pela experiência
sensorial, pela quebra de paradigmas e, como a vida requer, paciência, persistência e a infinita
disposição de conhecer o novo.
Marcelo
ResponderExcluirSou grande admirador do seu trabalho e minha família produz azeite na região do Cilento na Itália e as fraudes são cometidas exatamente por aqueles que deveriam guardar o bon nome desta instituição de 10000 anos - o Azeite - tomei a liberdade de linkar seu post no meu facebook aqui as fotos de nossa produção na Itália....http://www.facebook.com/media/set/?set=a.10150361112449588.369682.714904587&type=1
Oi Paulinho, fico feliz com isso. Vou olhar com calma as fotos da produção de sua família e em minha próxima viagem vou querer conhecer o local. Conte comigo sempre. Forte abraço.
ExcluirGRANDE MARCELO !!!
ResponderExcluirACOMPANHO E RESPEITO TEU TRABALHO HÁ MUITO TEMPO, MUITO VALIOSOS E INFORMATIVOS TEUS POSTS.
Muito obrigado. Sem vínculos comerciais e com objetivos estritamente educacionais, espero poder sempre colaborar nesse caminho de elucidação do nosso consumidor, agregando esse incomparável ingrediente a nossa dieta cotidiana. Grande abraço.
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