Lançado no final de 2010 e ainda sem tradução para o português, o livro Extra Virginity: The Sublime and Scandalous World of Olive Oil, do escritor norte-americano Tom Mueller lança luz sobre o milenar comércio de azeite no mundo, abordando espectros distintos - o escuro, da adulteração do óleo praticada pelas indústrias há mais de um século e o movimento de chefs, químicos e especialistas que se esforçam para trazer o azeite extra virgem para um patamar de qualidade mais elevado.
É uma história de opostos que caracteriza muito bem a atual comercialização do azeite - óleos de excelência buscando seu espaço contra os preços da comoditie mundial e seus milionários subsidios. Mueller, mais conhecido por seu artigo em 2007 sobre o mundo da adulteração do azeite, intitulado Slippery Business - "Negócios Escorregadios" na revista The New Yorker, dedicou os últimos quatro anos mergulhado no assunto. Quando os EUA atingem sozinhos com enorme rapidez o volume de U$1,5 bilhão no comércio do valioso óleo, é compreensível que o autor revele histórias de negócios pouco convencionais. Ele introduz o leitor em um grande número de situações passadas ao redor do mundo. De arquétipos heróicos, como Paolo Pasqualli da Villa Camperti na Toscana, um professor de filosofia que luta por um sistema de proteção do óleo, ao vilão, personagem como Domenico Ribatti cuja atividade ilegal de adulteração eventualmente o leva a protagonizar barganhas nas cortes italianas.
Confesso-lhes que ainda não li totalmente o livro. Tive com ele nas
mãos e pude folheá-lo, comprei hoje pela Amazon, mas os comentários a respeito e a crítica feita
pela jornalista Caroline J. Beck em site especializado levaram-me a
escrever este texto a partir das reflexões que
faço sobre o mercado brasileiro.
Com a velocidade do crescimento do comércio do azeite no Brasil,
país ainda desprovido de regulamentação específica e vivendo profunda
crise ética no meio político e social, podemos imaginar quanta fraude
existe nas transações que levam às prateleiras dos supermercados
brasileiros os extra virgens que consumimos.
Nos dias 20 e 21 de
junho deste ano foi encerrado o prazo dado pelo MAPA - Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento à consulta pública do Projeto de
Instrução Normativa que aprova o Regulamento Técnico dos Azeites de
Oliva e dos Óleos de Bagaço de Oliva, que definirá o seu padrão oficial
de classificação com os requisitos de identidade e qualidade, a
amostragem, o modo de apresentação e a marcação da rotulagem, na forma
dos seus Anexos.
Parece uma luz no fim do túnel desse mercado de
poucos escrúpulos. A partir de 2012, uma vez publicada essa
regulamentação, o Brasil ficará um pouco mais protegido, pois terá parâmetros para definir o padrão de qualidade do azeite que aqui é consumido.
O
caminho para o aprimoramento já se iniciou... é visível que o
consumidor brasileiro está começando a exigir mais e o acesso a produtos
de qualidade é essencial para que esse discernimento seja cada mais
apurado.
O simples fato de vermos a mais tradicional marca de azeites no Brasil
enfatizar sua publicidade nas novas embalagens com vidros escuros "para
evitar a oxidação e manter seu frescor" já é muito significativo e indica
que um primeiro passo, ainda que pequeno, já foi dado.
Marcelo.
ResponderExcluirRealmente isso é preocupante, pois vc bem sabe que hoje os cardiologistas aconselham usar o azeite extra virgem sem medidadas, ou seja quanto mais melhor é para o coração.Agora imagine como saber se o que se está comprando é realmente "extra virgem" ou se é um óleo de segunda.Faço sempre a escolha pelo de preço médio, por desconfiar dos mais baratos.Será que isso funciona?Seria bom que a poderosa Rede Globo faça aquela matéria de comparação e veracidade dos produtos.Igual a que já fez com outros produtos, lembra? Na época a água sanitária mais cara era a "Globo" é era a mais adulterada segundo a pesquisa.
Um forte abraço e , por favor, continue a postar matérias tão interessantes.Obrigado.
Aloysio Alberto