30/05/2014

Azeites Brasileiros, o frescor de novos horizontes sensoriais...

Serra da Mantiqueira, Serra da Bocaina, Visconde de Mauá, Caçapava do Sul, Cachoeiras do Sul, Santana do Livramento, os terroirs vão surgindo Brasil afora...  Ano após ano, a generosa olea europea se adapta ao clima subtropical e temperado e, com sua sábia ancestralidade, começa a nos transmitir aromas e sabores milenares contidos em nossa terra e traduzidos na seiva das azeitonas aqui crescidas.  

Foi em 29 de fevereiro de 2008 o registro oficial da extração do primeiro azeite de oliva no país,  ocorrido nas instalações do Núcleo Tecnológico de Azeite e Azeitona da EPAMIG, respeitada instituição de pesquisa agrícola do governo de Minas Gerais, cuja unidade no município de Maria da Fé é pioneira em estudos que visam implementar e incrementar o cultivo da oliveira em diversas regiões brasileiras, principalmente nos Contrafortes da  Serra da Mantiqueira.
(vide artigo neste blog - www.estilogourmetazeite.blogspot.com.br/2012_03_01_archive.html).

Nos últimos 6 anos um enorme esforço tem sido realizado na elaboração deste importante alimento funcional, cujo consumo no Brasil cresce cerca de 10% ao ano, tornando nosso mercado extremamente promissor e atraente para o mundo olivicultor.

A Olivas do Sul Agroindústria, do produtor José Aued, iniciou suas atividades em 2006, no município de Cachoeiras do Sul/RS, com a implementação de um pomar de 12 hectares.  A empresa foi a primeira a elaborar um azeite extra virgem no país em escala comercial, alcançando hoje uma boa reputação por sua qualidade sensorial em seus dois monovarietais, Arbequina e Arbosana.  Passados 8 anos sua área de cultivo cresceu 50%, bem como o número de municípios produtores.   A 120 km de distância dali, na pequena Caçapava do Sul, está  o pioneiríssimo produtor brasileiro Guajará de Oliveira que com sua esposa Olvânia cuidam apaixonadamente da Chácara Cerro dos Olivais com o maior banco de variedades do estado, onde encontram-se 14 tipos catalogados.  Este ano, na safra recém encerrada, sua produção alcançou a marca de 1500 litros das variedades Arbequina, Koroneiki, Arbosana e Picual, compondo azeites monovarietais e blends especiais.  Tive o prazer de degustar o monovarietal arbequina com ótimas características de frutado maduro e boa personalidade.

Bem próximo desta região, na fronteira com o Uruguai, os produtores Sibele e Fernando Rotondo iniciaram o cultivo da oliveira em 2008 e na safra de 2014 começarão a comercializar seus monovarietais Arbequina e Arbosana.   Pude degustar o varietal Arbequina, com perceptíveis notas de frutado maduro, banana e frutas maduras, o que já me faz ousar reconhecer as características do terroir gaúcho.

Pulamos para a região Sudeste, no sul de Minas Gerais, entre altitudes de 1200 a 1600 metros, na Serra da Mantiqueira.  Sob a supervisão técnica da EPAMIG, inúmeros produtores iniciaram experiências, cujos resultados tem sido bastante promissores.  Dentre eles, uma pequena associação reune produtores da Fazenda Santo Antonio do Bugre e da Fazenda São José no município de São Bento do Sapucaí e juntos lançarão a marca OLIQ de azeites extra virgens.  Em diferentes pomares, cujo primeiro cultivo foi iniciado em 2003, das variedades Arbequina, Grappolo, Maria da Fé, Koroneiki e Ascolana, Antonio Batista, Cristina Vincentin e Vera Masagão estão elaborando monovarietais de boa qualidade.  Tenho tido um grande prazer de acompanhar a produção desde a safra anterior, que já apresentara excelentes resultados e este ano, convidado por eles,  colaboro para o lançamento da marca, degustando desde fevereiro todas as amostras e descrevendo suas características sensoriais.  Serão diferentes rótulos da marca OLIQ, inclusive blends com predominância de Grappolo e Arbequina.  Tendo como principal compromisso a transparência e a qualidade, a Mantiqueira se firmará com produções artesanais e de  qualidade.

A poucos quilômetros dali, no Estado de São Paulo, a 1200 metros na Serra da Bocaina, em meio a Mata Atlântica, de onde pode-se avistar o mar,  o produtor Anibal Cury realiza seus experimentos desde 2006 e rotulou sua primeira safra em 2012 com o nome provisório de Azeite da Serra da Bocaina, um monovarietal Arbequina que foi apresentado oficialmente no Banquete da Roça, realização dos Ecochefs Maniva por ocasião da RIO + 20 em junho de 2012, evento paralelo ao encontro de chefes de estado no Rio de Janeiro.  Uma produção de 200 litros, com características de frutado maduro leve com notas herbáceas e de fruta madura, o primeiro extra virgem paulista encantou a todos, inclusive o vice governador do estado e sua esposa, presentes ao banquete. (Vide postagem neste blog em julho/2012).

Nesta safra, assim como na de 2013, devido a fenômenos climáticos, sua produção foi bem menor, mas as características sensoriais das variedades Grappolo e Arbequina apresentaram excelentes características e podemos concluir que os azeites paulistas, da mesma forma, apontam para um horizonte com muito boas perspectivas.

Reunindo esses distintos terroirs brasileiros, a convite da Universidade La Salle em Niterói, durante a Semana do Alimento Brasileiro no início deste mês de maio, tive a oportunidade de palestrar sobre a produção no país e apresentar amostras de todos os azeites aqui falados para uma platéia de 40 pessoas que se reuniu com muita curiosidade para ouvir sobre a viscejante produção brasileira.  

Persistência, paciência, pesquisa, estudo, conhecimento, sabedoria, amor, dedicação, além dos investimentos financeiros, todos são pré requisitos para o cultivo desta árvore milenar.  Gosto de dizer que o óleo essencial de seus frutos traduz segredos ancestrais da terra e para senti-los e descobri-los, basta se deixar conduzir pelo fio dourado e pelas maravilhosas harmonizações que este precioso alimento funcional pode nos proporcionar.  

Visconde de Mauá no Estado do Rio de Janeiro em breve entrará para o rol dos municípios produtores.  

Avante Brasil!  Queiram os italianos, espanhóis e portugueses ou não, a bola vai rolar!


 Azeites 100% brasileiros


Na UniLaSalle


No Banquete da Roça

Um comentário:

  1. Adorei o post sobre azeites brasileiros. Foi você mesmo que tinha dito algo sobre isso no Cervantes em outra degustação de azeites. E nesta última você estava ao meu lado! Curti!

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