Em recente artigo publicado em seu blog (http://blogs.ujaen.es/jgaforio/?cat=28), Dr. José J. Gaforio, médico imunologista, professor titular da Universidade de Jaén, chefe do Departamento de Ciências da Saúde, conhecido e respeitado por suas pesquisas relacionadas ao valor nutricional do azeite de oliva, cita importantes dados sobre o consumo mundial do óleo de palma, do qual a Malásia e a Indonésia são os maiores produtores.
Dos efeitos à saúde aos impactos ambientais gerados pela produção da gordura vegetal mais consumida no mundo, os números impressionam por serem exponenciais e reveladores.
Extraído da polpa do fruto da palmeira africana comumente chamada dendezeiro (Elaeis guineensis), estima-se que cada pessoa no mundo consome cerca de 59,3 kilos deste óleo ao ano. Em seu artigo, Dr. Gaforio diz que o problema é que na maior parte das ocasiões, não sabemos que o estamos consumindo, pois não é especificado em rótulos e nos processos industriais de produção.
De batatas fritas a chocolates, gorduras para confeitaria, biscoitos, roscas, pizzas congeladas, sorvetes, gorduras para frituras industriais, manteigas de amendoim, molhos prontos para saladas, margarinas, pães industrializados, doces, pastéis, alimentos pré-preparados, em toda esta gama de produtos, o óleo de palma é utilizado em maior ou menor proporção.
Chamado no Brasil equivocadamente de azeite de dendê, pois a palavra azeite deriva do vocábulo árabe az zait (sumo da azeitona), o óleo é rico em ácidos graxos saturados, sendo 44% de ácido palmítico; as evidências científicas relacionam este à obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. As recomendações médicas atuais, reitera Dr. Gaforio, são limitar o consumo de tais ácidos graxos e cita que há outros ácidos graxos muito mais saudáveis, dentre eles o ácido oléico, gordura monoinsaturada, principal componente do azeite de oliva.
Além dos surpreendentes números de consumo, o que mais chama atenção no artigo é a informação de que aproximadamente um quarto dos bosques tropicais autóctones da Indonésia desapareceram nos últimos 25 anos por deflorestação e incêndios para implantar o cultivo do dendezeiro e extrair seu óleo. Sofrem florestas, animais e toda a biodiversidade!
De acordo com informações do site oliveoiltimes.com, recentemente em uma disputa diplomática, a França, cedendo à lobbys comerciais pesados, cancelou a sobretaxa sobre a comercialização deste óleo, que havia sido determinada pelo Senado francês em 2012, por ocasião de decisões concernentes à preservação ambiental. A taxa a ser implementada a partir deste ano em percentuais crescentes até o ano de 2020 e que seria incrementada em cerca de 1000%, foi drasticamente reduzida e sequer dobrará até aquele ano. O Secretário de Estado da França disse no parlamento que havia algumas incertezas concernentes a lei que focava a taxa em apenas uma gordura vegetal, mas segundo a publicação francesa Le Dauphine, a principal razão para a redução da medida foi a ameaça indonésia de cancelar a compra dos aviões militares Airbus A400M, caso a decisão fosse mantida, fato que teria forte impacto sobre a economia francesa.
Este é apenas mais um exemplo da insensatez humana, na qual o interesse econômico se sobrepõe não só à preservação ambiental, fato mais que conhecido em nossos dias, mas também à saúde de inúmeros povos que consomem cada vez mais, sem seu conhecimento ou consentimento, essa gordura, que quando consumida sem controle, traz inúmeros danos à saúde.
Das terras do Japão, onde me encontro esses dias para estudar o idioma e a cultura deste povo, certifico o crescente consumo do azeite de oliva na alimentação japonesa, não só por sua saudabilidade, mas também por sua produção totalmente sustentável. De sabedoria milenar e, por viver em condições ambientais extremas, o Japão privilegia a importação de alimentos sustentáveis e que comprovadamente beneficiam a saúde e vai além, o país produz há poucos anos seu próprio azeite na ilha de Sodoshima, ao sul do arquipélago.
Encontramos cada vez mais motivos para entender que a escolha de nosso alimento, para além de nossa própria saúde, tem impactos políticos, econômicos e ambientais. Aprofundemos nossa reflexão sobre essas questões!
Escolher azeite de oliva é optar não só pela saúde e pelo ambiente, mas sobretudo, pela vida!
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Oliveiras no Japão
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